sábado, 21 de agosto de 2010

HISTÓRICO BIOGRÁFICO DE PM (PODEROSO MENSAGEIRO)


Ivair Coimbra é o nome oficial do rapper angolano de vulgo artístico PM (Poderoso Mensageiro). Filho de humildes professores, nasceu no ano de 1981 em Benguela-Angola numa zona fronteiriça, entre a cidade e a periferia. Migrado em Portugal desde o ano de 2000, por muitos é caracterizado como sendo um dos bons escritores de rap da cena hiphop do ciclo Palop e um dos grandes difusores de valores que Angola tem na diáspora.  

Em 1995 desloca-se para a vizinha província do Lubango/Huíla- Angola, onde começou a fazer as suas primeiras rimas com poesia miúda na missão católica do Tchivinguiro. Nessa localidade, onde estudou a 8ª classe, se familiarizou com o rap e em simultâneo aprendeu a liturgia bíblica. Em 1997, voltou para Benguela, ingressando o instituto pré-universitário, no curso de Ciências Sociais e ai criou o seu primeiro grupo de rap que se chamou “Soldados de Rua”. Em 1998 desistiu do projecto e partilhou uma dupla com o rapper Diva Gare no grupo C.B.O.S. (Crazy Boyz On Stage), que por sinal ainda hoje existe e goza de uma maior visibilidade em Benguela. Em 2000 emigrou para Portugal onde reside até o presente momento, porém, dando continuidade ao seu trabalho como músico. Participou em vários projectos notáveis e com artistas tais como Ciro Cruz, Punga, Eneida Marta, Hélvio, Eliei, Walter Vidal, Margarete do Rosário, Jipson, Jay B, J.C, GMS, etc. Com os projectos que já participou, aprendeu muito mais sobre o convívio com a música e com o meio artístico. 
  
Em 2001, em Portugal demarcou-se, aparecendo irreverente e independente como um dos bons trovadores conscientes e consistentes no seio do movimento underground. Em 2002, editou o maxi single intitulado “Niggaz”, em 2003 idealizou e editou a compilação “Ideologia Negra”, em 2004 bateu algumas portas para editar o seu 1º álbum de originais. Não conseguindo, pelo facto das editoras não se familiarizarem com o seu projecto, tendencialmente pró-revolucionário e contra o sistema vigente, PM não cruzou os braços, pois amealhou alguns recursos, trabalhando na área da construção cívil e editou ele próprio a sua obra, intitulada “Espírito Afrikano (Historial Rapretu)”. 

Ao viajar para Angola apara o lançamento da obra, o rapper realizou um sonho que foi o de ter publicado o seu 1º cd na sua terra natal, isto, aos 25 de Setembro de 2004. Assim sendo, firma-se na cena do hiphop Palop e aí é reconhecido pelo movimento como sendo um dos rappers mais movimentados e autônomos do panorama hiphop entre Portugal e Angola. Não obstante dos feitos, o artista não parou, assim, conquistou o respeito entre os rappers e daí continuou com o seu projecto. Criou obras e editou projectos musicais independentes, também apoiou alguns artistas. Algumas portas se abriram timidamente e, a partir dai foram surgindo alguns convites.

PM assim como é conhecido, inserido nas lides da juventude criativa angolana, é compositor e intérprete de seus próprios temas, se fez polivalente, em representação ao trabalho sócio-cultural que publicou até o presente. Não tendo contrato com uma editora específica associada a indústria musical, hoje com o seu nome artístico meramente firmado no musical angolano e no seio do panorama rap português, sente a “necessidade” de se filiar a uma editora major ou outras sociedades anônimas relacionadas a indústria, de modo a que essas dimensionem e deiam mais relevo na divulgação da sua música, que são no entanto, o teor do seu acervo musical. Neste artista, se denota muito futuro, a julgar pela sensibilidade que brota dos seus ideais. Naturalmente, vende o seu trabalho não apenas pelo cd, mas também através de espetáculos e um conjunto de produtos de merchandising que são um suporte, à dimensão do seu nome no mercado.  

Com 14 anos activos mergulhado no complexo mundo da música urbana e com uns 5 anos de “carreira” artística propriamente dita, PM enquandra-se no leque dos músicos angolanos com residência na diáspora, pois desde 2000 que se encontra em Portugal. Considerado um artista pré-profissional, por não assumir o ser rapper como profissão, pela forma como organiza o seu trabalho, e se movimenta entre os mercados onde publica as suas obras. Enquanto poeta rítmico e humanista, expande o seu projecto independente que se situa no status consciente, através dos temas de intervenção social que abordam as desigualdades, entre os descamisados e a elite. 

Este rapper é também um impulsionador da diversidade musical de carácter urbano, porque joga um papel importante no plano social e juvenil das sociedades onde se insere. Incansável lutador para unidade dos artistas africanos em Portugal, desde 2002 que tem vindo a incentivar à coesão dos autores africanos inseridos na sociedade portuguesa. Porém, sendo um artista do tipo vanguardista, reserva os valores culturais étnicos, éticos e morais como seu patrimônio tradicional, assim como se assume um filho da região Umbundu. Dada a educação trespassada pelos pais, o artista gostaria que os jovens tivessem um pouco mais de maturidade, para uma prudente análise dos factos que ocorrem ao seu redor. O anterior pressuposto, iria tornar mais participativa a entrega de cada um na sociedade, de modo a não desperdiçarem os valores que se vêem perdendo ao longo dos tempos durante o crescimento, um sinal de identidade.  

Mais do que definir a sigla PM que deu origem ao nome Poderoso Mensageiro, é também importante salientar o carácter excêntrico que o distingue de outros músicos (rappers). O seu marcante discurso não conhece fronteiras, muito pelo contrário, se estende por todas as classes sociais. Este músico que dá importância ao seu trabalho, é socialmente activo, abraça causas nobres, combate contra o fosso existente entres as classes sociais, preza o amor ao próximo, a partilha, a frontalidade, firmeza, honestidade, amizade, o aprender, o saber, a alegria, humildade. Tudo, num discurso simples, assim com quem se revê no seguinte conceito: “eu quero ser a música que morre em mim e não a música que morre pelo tempo, então sim, eu não vou pelas modas porque já passei por muitas, e delas, pouco me lembro de algumas”- um pensamento de sua autoria. Como um verdadeiro poeta, o artista pretende cativar mais mentes, um público que se apaixona pelo deslumbre da sua música.  

PM, prima pela mensagem poeticamente bem escrita e rimada com sentimento, entre o belo e a vaidade natural do bom angolano da banga, bem como de um bom lírico tradicional. Muitos o chamam de “fazedor de clássicos” e outros ainda de “lirical” pelo seu potencial lirico-verbal. O músico não se limita. Porém, busca cada vez mais ritmos abismais que existem na face da terra para fundir ao seu peculiar estilo rap, como sendo uma das principais vertentes pertencentes a cultura recreativa hiphop. Esboça assim, novos conceitos e fórmulas musicais para concepção do seu rap peculiar. O seu percurso não é efêmero, pois pretende coexistir, deixar um legado, inspirar, ajudar, participar e aprender com a última geração de verdadeiros artistas, sobretudo os que enveredarem para o mundo da música, não apenas no seu estilo. Acredita que mais do que o dinheiro que se pode ganhar com o trabalho no mundo da música, o mais importante é sucesso espiritual e o valor íntegro.

Para quem é apreciador de boa mensagem musical, PM não preenche apenas momentos onde a ilusão reina, leva a viajar pela realidade do existente, pela liberdade da alma, mais para lá do horizonte onde se consegue sonhar e ter esperança. Assim, opta por viver o que testemunha, longe da ficção, da fixação na mentira e dos jogos, vive mais próximo do sonho, da realidade social que o envolve e rodeia o mundo. Mais do que um simples músico do estilo rap, se assume como um ativista social e defensor dos direitos humanos, apadrinha e participa em vários projectos de âmbito social, ajuda, unifica e interliga pessoas e combate o cinismo. Resumindo, é politicamente pró-humanista, salvaguardando a justiça, liberdade, amor e a paz.

O seu rap de carácter urbano e excêntrico, contraria a vaidade cega e excessiva existente no seio, como combate a arrogância desnecessária. PM faz parte dos mais novos criadores que se distingue no universo das grandes revelações, através da corrente poética de bem rimar. Apreciador da boa música e mais de obras com teor sócio-interventivo. No panorama do Rap nacional e internacional, aprecia músicos como, Gutto (Black Company), Chullage, MVBill, Racionais MCs, Consciência humana, Keita Mayanda, Leonardo Wawuti, MC K, Talib Kweli, Mos Deff, Common Sense, Dead Prez, Nas, entre outros bons Rappers espalhados pelo mundo.
    
PM já pisou vários palcos. Em Portugal, por exemplo, fez aparições no IPJ (Instituto Português para Juventude), na zona do Parque das Nações (na Gare do Oriente em Lisboa), bem como no grande Pavilhão Atlântico, também em associações, teatros, bares e clubs nocturnos. Em Angola, de onde é oriundo, já actuou em espaços de convívio como o Elinga teatro, Espaço Baía, Miami Beach, Maratona Nível Global Worldwade e em diversos palcos provinciais. Durante o seu percurso, o músico já esteve no mesmo palco em que partilhou com grandes dinossauros do panorama musical, nacional e internacional. Em Portugal abriu shows de Akon, Fat Joe, Ja Rule e Ashanti, no Pavilhão Atlântico em 2006. Mas Keita Mayanda, MC K, Leonardo Wawuti, GMS, Chullage, Lweji, Anselmo Ralph, Paul G, Pape Tchulo, Hélvio, Eliei, Beto Dias, Nigga Poison, GMS, TWA, Lweji são alguns artistas com quem também já partilhou alguns palcos. 

Musicalmente, inspira-se em músicas que ouve de artistas com pendor nacionalista e revolucionário, muito dos quais, angolanos do antigamente. Estão entre os referenciados, Urbano de Castro, David Zé, Artur Nunes, Carlos Lamartine, Santocas, Teta Lando, André Mingas, Valdemar Bastos, Dionísio Rocha, Carlos Burity, Rui Mingas e outros. Alguns músicos da nova geração também lhe são úteis nos momentos de inspiração. Ei-los: Paulo Flores, Hélvio, Kizua Gourgel, Damásio, Jeff Brown, Wiza, Guy Destino, Dodó Miranda, Don Kikas, Mayra Andrade, Lura, Sara Tavares, Tito Paris, Jay, Geny (Lweji), Pedro Abrunhosa, Manuela Azevedo (Clã) e Tiago Bettencourt (Toranja). Contudo, pretende ainda adquirir mais experiência.

Apesar de reservado em alguns aspectos, o rapper aborda com cautela os fenômenos sociais com que se depara, de modo a não chocar com os valores e princípios íntegros a que prima zelar. Há dois anos, sensibilizou a sociedade angolana através de um projecto filantrópico que pretendeu impulsionar a participação de todos, em prol de uma Angola ou mundo melhor. Esta iniciativa, se mantém ainda viva nas mentes dos que nela participaram, pois permitiu alertar sobre o valor de cada cidadão numa determinada sociedade em vias de desenvolvimento. O projecto lançado foi um disco com edição limitada e exclusivamente direcionada ao mercado angolano, desenvolvido entre Outubro de 2008 e Abril de 2009.   

O Projecto RAP (Realidade, Amizade, Prosperidade) comporta 8 faixas músicas,  uma faixa bónus e contou com a participação de Helvio, Tárcio Kilamba, Anyll, Eliei, Danny L e muito mais. Este que foi vendido e 20% das vendas o músico reverteu em forma de material didáctico e cultural para a Aldeia de Crianças SOS de Benguela. Projecto este, caracterizado como uma selecção de músicas com cariz tropical criadas pelo artista, envolvendo o social e humano. É uma obra que não se fixa no tradicional rap pró-convencional, nem é condicionado ao estatuto experimental pela disparidade de ritmos musicais fundidos que apresenta, é sobre tudo um momento de descontração musical e reflexão espiritual do artista em que alma lhe “clicka” e o desperta da musica para a educação cultural, sensibilização cívica e da acção á intervenção social.

Para efetivação de tal desiderato, o músico foi entrevistado em vários órgãos da comunicação social angolanas, a saber, Janela Aberta, Ecos e Factos, Revista Musical, Ventos e Sopros, Nós e a Noite, Tchillar, Hora Quente e Alto Nível, isto, no concerne aos programas de televisão. No que toca a Angop, bem como aos jornais locais, programas e noticiários de rádios, o projecto conheceu uma abrangência maior e por isso, foi exitoso, tendo passado as fronteiras de Angola (a arte não tem limites nem fronteiras).
  
Para mais, PM é simplesmente um músico, trabalhador e actualmente estudante do curso de Serviço Social” numa das universidades do ensino superior em Lisboa. Presentemente tem um projecto associativo em carteira para sua terra natal, um plano de união e progresso juvenil, o núcleo da “Juventude Acácias em movimento”. Bem-haja e que Deus lhe dê mais anos de vida para que assim continue a dar luz e a concretizar os seus projectos e actividades.

Para este ano de 2010, esperamos pelo seu segundo álbum de originais que será oficialmente editado e distribuido em Angola pela produtora SAMK EVENTOS, com a produção do seu projecto LIRICAL RECORD. Esperemos que este facto seja materializado com exito. Ele é o PM (Poderoso Mensageiro), o mensageiro sem fronteiras.

Texto escrito por: 
Miguel Neto aka Nível (Locutor de rádio e apresentador de televisão). 

DISCOGRAFIA DE PM

Maxi single “Niggaz” 2002 | Compilação “Ideologia Negra” 2003 | Álbum de estreia “Espírito Afrikano (Historial Rapretu)” 2004 | CD multimédia “Lirical rádio mix” 2006 | CD multimédia “Temas inéditos” 2007 | “Projecto RAP (Realidade, Amizade, Prosperidade)” 2008.